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Caminho sem volta

Por Reinaldo Teixeira da Conceição

· Publicações do site

Me chamo Reinaldo sou morado da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro e vou contar um pouco do que vivi dentro do Complexo de Gerecinó 4B.

No dia 18/07/2015 cheguei dentro de presídio assustado, com fome e com medo. Deveria estar mais ou menos uns 38 graus, todo mundo espremido suando, na segunda cancela ficamos sabendo que tinha morrido um. Um menó que estava atrás de mim disse "Quem morre na cadeia é vacilão não morreu a toa" fiquei quieto. Passaram mais duas cancelas, chegaram dois Seap com carrinho de carga passando com um corpo magrelo em cima. Fiquei desesperado.
 

Cheguei na galeria de cabeça baixa, pois não tinha esquecido o tapa que levei na nuca para abaixar a cabeça e pôr as mãos para trás. Olhei assustado vi muita roupa pendurada, fumaça, rato, lixo, esgoto e os amigos fazendo o rango no meio disso tudo. Logo escutei "levanta a cabeça porra, coloca a mão pra frente, aqui nos é bandido não relaxa" estava em choque olhando aquilo tudo com medo de tudo e de todos. Não sabia em quem podia confiar, estava cego.

Logo depois achei minha cela, contei o que tinha acontecido, conheci os presos comecei a ficar mais calmo. Chegou a hora da comida. 12 caixas de brilhosa para cada galeria, fiquei olhando os agentes da Seap distribuir. Ninguém falou nada. Todo mundo quieto. Ninguém abriu a quentinha, quando eu abri subiu o cheiro de podre, quase vomitei. Todo mundo começou a rir. Quando eu olhei, vi a carne moída nadando junto com salsicha, água pura, o feijão, quase do tamanho de azeitonas. Não precisamos falar da higiene porque não tem. Tem esgoto passando por dentro da galeria, os presos dormem com os ratos praticamente. É desumano em todos os aspectos. Alguns presos não têm visita, não tem nada, se colocam em situações desprezíveis para conseguir uma farofa, biscoito ou até uma água, porque a água é ligada 30 minutos por dia para mais de 1900 presos.

Infelizmente não vejo uma solução para essa situação só peço a deus que continue protegendo quem está lá e quem está aqui, que é preto, favelado, pobre que diariamente sofre com a DESIGUALDADE, CORRUPÇÃO, VIOLÊNCIA E O RACISMO.


Todos os dias em todas as periferias.


Tento nem imaginar o que se passa lá nos dias de hoje nessa pandemia. No local em que poucos têm sabão para lavar a mão e ninguém tem máscara para se proteger é triste ver como o Estado trata as pessoas. Pior que animais.