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Em Goiás, pessoas privadas de liberdade denunciam tortura

Infovírus

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Uma carta assinada por 99 pessoas presas na Unidade Prisional de Caldas Novas, em Goiás, denuncia uma rotina de tortura. Segundo o Jornal Metamorfose, a carta foi entregue a Joacy Fernandes Carvalho Júnior, pai de um dos presos torturados, por Wender Júnior dos Santos no dia em que saiu do presídio. 

Quatro dias depois, a denúncia foi entregue à Promotoria, que instaurou um procedimento administrativo. A Polícia Civil investiga o caso. A unidade é administrada pelo policial penal Wallisson dos Santos Souza.

Além da tortura, a carta relata ameaças feitas pelo diretor da unidade ao interno Gabriel Vilela, cujo pai havia denunciado as agressões. “Fomos diversas vezes torturados com gás de pimenta nos olhos, água fria, chutes na costela, no estômago, tapas na orelha e várias agressões, deixavam de 10 a 15 dias sem escovar os dentes e sem banho com sabonete, somente molhando com água do cano, dormindo na pedra, sem colchão, retiraram ventilador de algumas celas, muitos passando mal de calor, retirou parte da alimentação, sem colchão a título de castigo”, diz a declaração feita por Wender e entregue ao Ministério Público para evitar que Gabriel fosse assassinado.

Segundo os entrevistados pelo Jornal Metamorfose, houve retaliação após as denúncias: os presos apanham e os familiares recebem ameaças de morte e humilhação. Joacy, que é ex-policial militar, denuncia ainda a existência de grupos de extermínio dentro da polícia. “Não quero confrontar ninguém e queremos seguir as regras, mas a polícia quer matar as pessoas, não existe mais abordagem com diálogo”, diz Joacy. Ele relata que tem sofrido ameaças por parte de policiais.

A advogada que acompanha o caso diz que o diretor da unidade tem histórico de punições, como proibir banho e escovação de dentes e não dar acesso a roupas e colchão. A esposa de um dos internos, Lauryane Felix dos Santos, contou ao Jornal Metamorfose que, recentemente, viu um rapaz apanhar durante a visita. “A gente chega lá eles estão todos assustados, com o olhar de medo pedindo ajuda, mas os policiais escondem os machucados, eles não deixam a gente ver”, afirma.

O sistema prisional brasileiro é, historicamente, um lugar de violência e de reprodução da morte, especialmente direcionado para corpos negros e pobres. Como o Infovírus tem mostrado, a pandemia apenas agravou este cenário, dificultando as visitas e, com isso, o controle realizado por familiares e advogadas/os.