Nos estados do Nordeste, o impacto do novo coronavírus no sistema penitenciário se revela bem mais grave do que indicam os números oficiais.
Na Bahia, em 27 de maio, a Defensoria Pública constatou violações nas unidades prisionais: ausência de testagem de presos sintomáticos, falta de EPIs e materiais de higiene. Solicitou à Secretaria Estadual de Saúde testagem de todos os internos do sistema prisional. Após mais de 20 dias, não há resposta à solicitação nos sites oficiais do estado.
O Rio Grande do Norte convive com falta de estrutura, torturas e maus-tratos frequentes, dentre outras violações no sistema prisional. As famílias providenciam os materiais para higiene mínima, que dificilmente chegam aos detentos. Continua a falta de testes, conforme denúncia da Frente Estadual pelo Desencarceramento do estado em 10 de junho.
O Infovírus faz o acompanhamento diário do painel do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e observou um padrão nos dados sobre os estados nordestinos: números baixos no registro das ocorrências. Com uma população prisional total de 135.983 pessoas, registram-se em 22 de junho 343 suspeitas, 791 detecções e 11 óbitos.
O padrão altera-se no final de maio, quando ocorre um salto vertiginoso nas detecções, que coincide com a estreia o campo “recuperados” no painel do Depen. No Ceará, de 3 a 4 de junho, as detecções passam de 51 para 224, enquanto os recuperados pulam de oito para 109. Em Pernambuco, em 23 de maio, também há um salto de 58 para 105 detecções e de 35 para 83 recuperados em 24 horas.