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Pandemia e sistema prisional, pelo olhar das mães

Leiza

· Publicações do site

Eu, Leiza, mãe de interna do sistema prisional, gostaria de relatar algumas coisas que aconteceram desde que se iniciou a pandemia em março desde ano (2020).

Em março, as visitas no presídio foram suspensas. Na época, não era possível ter nenhuma notícia das internas, não era possível cartas, Sedex e entrega das bolsas foram suspensas também.


Foi um momento angustiante, pois não recebíamos nem podíamos enviar notícias.

Em abril foi liberado para que fizessemos a entrega das bolsas, no dia dessa entrega era possível levar as bolsas com comida, alimentos, higiene, sucata e também era possível enviar as cartas e receber cartas.


Em um desses dias em que levei as bolsas com alimentos vi que os guardas descartaram muitas coisas. Isso me deu bastante revolta e também tristeza, pois trabalho muito para comprar comida e ajudar minha filha nesse período difícil. E ver os alimentos sendo desperdiçado foi um absurdo.


Como foi liberado a minha filha e, as internas em geral, enviar bilhetes para os familiares, recebia muitos deles relatando as dificuldades que elas enfrentavam lá dentro. Nas cartas elas constantemente relatavam que a comida servida no presídio estava azeda e que as meninas estavam sem medicações e remédios.

Em uma das cartas recebidas uma das meninas me pediu desesperadamente para que eu comprasse a medicação de bronquite dela. Os guardas, inicialmente, não deixaram que eu enviasse a medicação, e informaram que teria que ser o próprio familiar para entregar, mas eu insisti sabendo a necessidade que o remédio tem para uma pessoa com bronquite. Após a minha insistência os guardas cederam e fui rapidamente na rua comprar a medicação.


Uma vez, eu consegui doações de medicamentos, que incluíam pomadas ginecológicas, antibióticos, entre outros remédios que seriam importantes para as necessidades das internas, mas a doação não foi aceita por parte do presídio/guardas.

Nesse período, os bilhetes vinham com muitos pedidos de ajuda, em um deles outra jovem pediu que eu procurasse e entrasse em contato com a mãe dela, pois não tinha notícias da mãe por cartas ou recados e estava muito preocupada.
As internas reclamavam bastante também dos abusos e agressões sofridas pelas guardas, que se reportaram a elas com palavras de baixas calão.


A minha filha relata muito a discriminação sofrida pelas internas pretas, sendo o tratamento que estas recebem bem pior que as outras internas. Certa vez, em uma visita, ela me contou aos prantos que as internas pretas eram chamadas de pretas sujas, macacas e imundas dentro do presídio. Sendo o racismo lá dentro cruel e escancarado.


Quanto a visita retornou percebi que as internas estavam visualmente bem mais magras.


Os horários para as visitas também não tem sido respeitado, o horário determinado para vê-las é de 09h - 12h, mas muitas vezes só permitem quem entremos por volta de 11h.